Protesto aos donos de empresa

Daí eu tinha refeito feito e refeito o meu currículo caprichado para sair distribuindo nas lojas da minha cidade. Fui mostrar pro meu amigo, Kid. Ele examinou com seriedade e aconselhou-me a excluir a Música do meu currículo. Kid acha que isso pode ser dito na entrevista, pois o currículo deve ser uma coisa mais objetiva. É que, por recomendação do Isaac (meu professor de Música), eu coloquei que eu faço aulas de Música, tendo o violão como habilitação e disse também que tenho um ótimo desempenho. Mas Kid insistiu que o currículo deve ser mais objetivo. Fiquei perplexa. Porque um fala uma coisa, o outro fala outra coisa. Ok. Eu e o Kid conversamos bastante sobre outras coisas. Depois eu me despedi dele e fui pro meu curso de Informática. Pensei em deixar o currículo lá também, pois o pessoal encaminha pra uma agência que encaminha para empresas que precisam de funcionários. Perguntei pra secretária sobre a inclusão da Música. Ela concordou em incluir. Deixei quieto, afinal maioria acha melhor incluir a Música. O problema é que depois, um outro querido amigo meu (o qual eu prefiro não revelar a identidade, pela nossa segurança, para evitar problemas) descobriu o seguinte fato:
“(…) uma das características [da Matrix] é aquilo que o [Kid] tinha te falado sobre não colocar no currículo que você está estudando música. E sabe porque? Simplesmente porque (é incrível….louco mesmo, mas é verdade…) pro mercado, e está na cartilha dos psicólogos que fazem os exames psicotécnicos de admissão de pessoal, que quem meche com música e outras inclinações artísticas como pintura, poesia, etc… tem tendências a ser uma pessoa rebelde e crítica, que não se enquadra facilmente em esquemas de empresas, ou seja, são mais difíceis de ser subordinadas e acatar ordens. (…) Já tinha percebido (acho que você também), quando [o Fulano], todo sem jeito, disse que você não precisaria daquele emprego e que você não precisaria se submeter a trabalhar lá na Donna Flor (disse como se a vaga que eles ofereciam fosse a pior tortura pra você), pois afinal você era uma artista e deveria seguir este caminho. No fundo até que eles não deixam de ter razão, pois cê já imaginou o Raulzito ou o Cazuza como funcionários-padrão de um órgão público qualquer? (…)
O Monstro Sist tem destas coisas horrorosas! Só que eu, se fosse fazer currículos meus, colocaria que amo arte de montão! Afinal tô falando daquilo que gosto e em que acredito, tem alguma coisa de mais? Por fim, seria descartado por um monte de gente, mas quem me admitisse é porque teria uma afinidade comigo e que precisaria de pessoas que amem arte pra ocupar a vaga. Pra te ser sincero nem faria currículo (acho isto frio demais) eu iria é pessoalmente mesmo e insistiria até o dono me atender e mostraria o quanto eu taria interessado na vaga. Acho currículo muito impessoal e omisso, apesar de saber que é a marca do profissionalismo e da “qualidade total” das empresas em admissão de pessoal. Num é que o tal de curriculum vitae virou até padrão de mercado?…..huuummm qui chiquêsa heiiiiinnn!!!???….eu hein?”
Pois é, gente! E eu estou expondo isso aqui no meu blog, porque eu quero protestar contra esse PreConceito que o Sistema tem a respeito de nós, artistas. Não vou dizer que todos os artista são rebeldes. E não vou dizer que eu não sou rebelde. Mas lhes digo que todos nós temos um certo grau de rebeldia. Melhor dizendo, todos nós temos um certo grau de tolerância. Gente, se precisar de chegar na empresa às 5 da manhã, Morfeu (o deus do sono) vai fazer de tudo pra me segurar na cama, mas eu vou me esforçar ao máximo pra chegar no horário marcado. Se precisar de usar um uniforme horroroso, abafado e cor-de-rosa, eu uso (fazer o quê!). Se precisar de aguentar colega falso, chefe autoritário ou cliente antipático, eu aguento. Afinal de contas, EU PRECISO DE GANHAR DINHEIRO, POXA! E sabem o que eu vou fazer com o meu dinheiro? Em 1º lugar, não vou precisar de pedir coisas pro meu pai, porque eu terei o meu dinheiro e comprarei o que eu quiser com ele. Além disso, eu faço questão de ajudar nas finanças da casa (afinal, se eu ajudo a gastar, eu tenho que ajudar a pagar). Das coisas pequenas que eu vou comprar vai ser: roupas, sapatos, maquiagem, perfumes, trem de comer gostoso, créditos pro meu celular, etc. Das coisas grandes que eu vou comprar vai ser: máquina fotográfica, laptop, telefone fixo, celulares pros meus avós, óculos pro meu pai, vou instalar internet móvel em casa, guitarra e acho que só (por enquanto). É lógico que eu não vou comprar tudo de uma vez (senão eu entro em dívida). Pretendo, também, entrar numa escola de idiomas, porque é sempre bom a gente saber falar fluentemente mais de um idioma. Quero aprender Inglês, Espanhol, Francês, Alemão e se eu animar aprendo Italiano também. Um de cada vez, é claro (senão eu piro). Quando eu tiver as minhas férias, eu vou pra onde eu quero com a passagem comprada pelo meu dinheiro. E eu vou ficar metida, porque tudo eu vou comprar com meu dinheiro e não vou pedir nada pra ninguém. O que sobrar, eu guardo na poupança, que é pra quando eu tiver a minha casinha própria (se Deus quiser [e Ele há de querer!]) com os meus lindos móveis e a minha decoração original. Eu sou uma garota bem intencionada, poxa! Eu não faço mal a ninguém, prometo trabalhar direitinho e do jeito que meus chefes quiserem, afinal eu tô trabalhando é pra isso. Se eu quero o meu dinheiro, eu tenho que fazer como mandar o figurino.
E tem mais: Se vocês (psicólogos, empresários, gerentes, etc) têm medo de mim e dos outros artistas, eu vos digo que não precisais ter medo, porque a gente não faz mal a ninguém. Mas se vocês não gostam da gente, então falam isso na cara e não nos iluda! Porque nós, artistas, também precisamos do nosso ganha-pão. E nós somos sinceros e transparentes (o que é excelente numa empresa). Então se eu fosse vocês, preferiria contratar um artista do que uma pessoa comum. Porque artista é inteligente, tem cultura, é franco e transparente, não precisa usar máscaras e faz o serviço bem feito. E como artista que sou, eu sei muito bem os lugares aonde estou deixando meu currículo e sei que, aonde eu passo, não vai ser chato de trabalhar. Pode ser estressante? Pode. Como em todo lugar é. Mas não vai ser difícil de fazer. E eu sou uma menina esforçada. Outra coisa: Se eu foder alguma coisa na empresa, é só vocês me demitirem! Simples! Mas vocês precisam me dar uma chance, porque eu preciso provar pra vocês, pra minha família e pra mim mesma que eu sou capaz, tenho potencial e sou independente.
Agora, uma palavrinha aos meus colegas artistas: queridos, como vocês viram, eles querem que a gente use máscaras. Portanto, aqui eu deixo bem claro que num currículo, não é bom você dizer que está envolvido(a) em qualquer coisa de arte (a não ser que você trabalhe numa loja de instrumentos musicais, ou seja um cartunista ou qualquer coisa do tipo). O Sistema não valoriza a arte. A única coisa importante que eles valorizam é o caráter da pessoa. Não interessa se você é inteligente, se você tem cultura, se você gosta de rock ou sertanejo, se você gosta disso ou daquilo. Aliás, eles não gostam de gente festeira. Porque eles acham que você vai fazer festa no serviço também. Se você disser que é uma pessoa caseira e não sai pra lugar nenhum, já subiu um ponto de conceito. Então se você é uma pessoa agitada, festeira, que vai em todas as baladas, tem que mentir dizendo que é uma pessoa quieta, caseira e que gosta de fazer biscoitos aos sábados.
Á todos: obrigada pela atenção! Desculpe a sinceridade, mas essa é a minha natureza (e pra mim isso não é defeito). Protesto contra essa ignorância! E quem quiser protestar comigo, favor fazer um abaixo-assinado, comentando no meu blog. Se acharem difícil, enviem-me um e-mail com o abaixo-assinado (ana_lu@raulrockclub.com.br).

Atenciosamente (e “atenciosamente”),
Ana Luiza

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